A paisagem e o retrato foram os primeiros temas do advento fotográfico no séc. XIX. As sociedades geográficas do séc. XIX mapearam o planeta através da fotografia de paisagem. Podemos hoje afirmar que já tudo foi fotografado, principalmente após a última massificação da fotografia com a inclusão de uma câmara fotográfica nos telemóveis.
Mas também podemos dizer das fotografias do Monteiro Gil que só ele as poderia fazer ou seja, o indivíduo artista/fotógrafo enquanto ser único e autónomo tem uma expressão individual e não colectiva (não está ao serviço de um grupo ou de uma ideia).
Monteiro Gil nesta exposição com cerca de 50 Fotografias apresenta-nos uma visão da paisagem, que o acompanha como prática desde o inicio da sua carreira artística dentro do conceptualismo. As Fotografia do Monteiro Gil são ao mesmo tempo representação e ficção, estão inscritas num conceito alargado de paisagem, desde os planos gerais, mais abertos, até paisagens de planos mais fechados, oscilando entre a melancolia dos grandes espaços e o frémito do objecto construído em relação/confronto com as envolventes.
O que realmente importa nas imagens do Monteiro Gil, o que ele nos dá a ver, é outra coisa, qual malabarista. O que ele persegue e nos exibe triunfalmente é a LUZ. Em todo este trabalho a luz é o principio que estrutura todas as Fotografias, a luz como “Enlightenment”, pensamento e acção.
Neste trabalho sobre a Luz/Paisagem Monteiro Gil diz-nos da importância da contemplação, do tempo “parado” e da inactividade, como última possibilidade de sermos felizes, de podermos pensar sobre tudo ou nada ou seja, fluirmos numa poética sem obrigações/necessidades de produção.
Monteiro Gil nasceu na Guarda, a 14 de março de 1943. Diplomado pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian (1964-68), professor do ensino secundário, professor de fotografia, integrou a Cooperativa Diferença, fez parte do Grupo Iris (1992-97). Participou em dezenas de exposições individuais e coletivas, editou vários livros, nomeadamente “Prata Negra” (Fim de Século Ed., 1992), “As Pedras e o Tempo” (Cooperativa Diferença, 1993), “Lisboa Qualquer Lugar – Lisboa Qualquer Lisboa” (Cooperativa Diferença, 1994) e “Made in U.S.A. – Impressões de Viagem” (Cooperativa Diferença, 1996), estes ligados ao Grupo Iris; “Um país de longínquas fronteiras” (Câmara Municipal da Guarda, 2000), “Um (e)terno olhar. Eduardo Lourenço, Vergílio Ferreira e a Guarda” (Centro de Estudos Ibéricos, 2008) ou “Leite, cardo e mãos frias. O queijo da Serra da Estrela no concelho da Guarda” (Câmara Municipal da Guarda, 2009), para referir apenas alguns, todos eles em parceria com outros autores (entre outros, Fernando Curado Matos, Luís Azevedo, Alberto Picco e Agostinho Gonçalves). Vive e trabalha em Lisboa. As suas obras integram diversas coleções particulares e públicas, estando representado em museus em Portugal, Espanha, França, Bélgica, Suíça e Itália.