“(…) As obras apresentadas surgem na sequência directa da última mostra individual do artista, “A caminho de Marte" (Sismógrafo, Porto, 2019), podendo mesmo considerar-se esta individual na Diferença, como a segunda parte de um projecto centrado nessa personagem singular, o guerreiro, mas que vai muito para além dessa intenção, podendo nos trabalhos agora revelados observar-se uma espécie de trajecto em que Petersen vai optando cada vez mais pela abstração, uma forma de sublinhar ou sublimar as suas ideias onde a inocência se cruza com a perversidade, tal como se um conto infantil se tratasse.
A exposição encontra-se dividida em dois tempos, que também são outros tantos espaços, territórios: as pinturas, a maioria realizada durante o tempo da pandemia, nas quais Eduardo Petersen explora as possibilidades do próprio meio, nomeadamente ao nível da cor e da composição, e as esculturas, que provêm de um passado recente e através das quais somos confrontados com os artefactos do guerreiro: um garfo transformado em seta, a perna de um banco mudada em instável capacete, uma peça para engomar gravatas passada a espada de brincar. Tudo surge como uma tentativa, por vezes desajeitada, de comunicar uma dor, essa sensação causada pelo sofrimento de ver o tempo a realizar o seu labor implacável sobre as nossas vidas. Pode dizer-se que “Os atributos do guerreiro" é uma mostra acerca do trabalho de luto.
As pinturas agora reveladas definem quer o território onde foram realizadas, a Praia das Maçãs, em Sintra, quer lembranças relacionadas com a biografia do artista nomeadamente de passeios e de geografias que fazem parte do seu percurso (…)
Nas várias fases deste trabalho, é como se as dores principiassem a diluir-se nas tintas e acontecesse uma iluminação. (…)
“ – avoir l’apprenti dans le soleil –“ é uma frase inscrita por Marcel Duchamp num desenho sobre uma pauta de música, onde também se vê um ciclista a subir uma superfície muito inclinada. (…)”
Excertos do ensaio “Sol das Maçãs”, de Óscar Faria, incluído no catálogo da exposição.
Eduardo Petersen (Lisboa, 1961). Trabalha como juiz.
Entre outras formações, fez o Curso Básico de Desenho e Escultura e o Curso Avançado de Artes Plásticas do Ar.co (Lisboa, 2001-2004) e o Independent Studies Program, na Maumaus, (Lisboa, 2008/2009).
Expõe individualmente desde 1993, sendo a última “A Caminho de Marte”, Sismógrafo, Porto, 2019, curadoria de Óscar Faria. Participou no “Prémio EDP Jovens Artistas”, 5ª edição (Coimbra, 2005), e nas exposições colectivas “Espaço Interpress” (com António Bolota e Teresa Henriques), (Lisboa, 2006), “Straight ahead and then turn”, “Espaço Avenida”, Lisboa, 2008.
Colaborou com André Catalão, Agostinho Gonçalves e Paulo Lisboa nos projetos performativos: “Vltra Trajectvm”, Expodium (Utrecht, Holanda, 2011), “Hotchpotch”, Lx Factory (Colectiva, Lisboa, 2010) e “Otia Tvta”, Palácio Quintela (Lisboa, 2009). Colaborou com António Leal, Cristina d’Eça Leal, Ana Pissara e Diana Simões na vídeo instalação “No tempo da melancia”, “Espaço Avenida” (Lisboa, 2010). Participou com Marta Caldas, Armanda Duarte, Mariana Ramos, Maria Teresa Silva e Thierry Simões em “Elevação, Suspensão, Afinação”, Parkour (Lisboa, 2014) e “Caixa de Contar”, uma peça especialmente concebida e produzida para a biblioteca dos afectos (Virgínia Mota) Morro do Céu, MAC, Niterói, Rio de Janeiro (Lisboa, 2010).