Conheço a Catarina desde que me lembro de mim próprio. Companheira de memórias e de recordações de infância e de juventude, mantive sempre com ela uma proximidade familiar. Temos sido companheiros de histórias, contadores ou ouvintes, partilhando o prazer de narrativas bem contadas. A frase mais característica da Catarina foi sempre “Conta lá aquela da …”. Temos pois em comum esse lado juvenil de viver a vida como uma boa história. Conheci o Henrique recentemente na exposição de biombos da Catarina. Apercebi-me nesse momento da sua ligação com aquele projeto e do seu indisfarçável entusiasmo. Foi o momento em que a Catarina o deixou entrar na sua pintura. Arquiteto de terra, habituado a conviver com materiais, a pensar com as mãos, um sonhador realista que trouxe a infância consigo. A Catarina é uma colecionadora de memórias, capaz de as reinventar sem as trair, transformando-as e interpretando-as introspetivamente na sua criação artística. O que mais me fascinou nesta paisagem por dentro, foi a conjugação de dois criadores, cujo trabalho não foi aqui uma soma de partes, mas um todo, espontâneo e coerente. Ao olhar as peças finalizadas, imaginei-os deliciados nesta criação, adivinhando-se em silêncio, sem se questionarem, como que construindo um puzzle sem matriz. Tal como a fotografia nos permite isolar detalhes ou aspectos de uma paisagem, evidenciando o que nos encanta, nos perturba ou nos retém a atenção, este trabalho é como a fotografia subterrânea de um mundo que não vemos. A paisagem por dentro revelou-se uma empática simbiose que nos diz tudo sobre cada um dos seus autores. O trabalho de um artista é um trabalho solitário e este trabalho não contradiz essa ideia. A Catarina e o Henrique foram um só nesta “Paisagem por dentro”. Esta obra é, acima de tudo, uma experiência de vida.
Nasceu em Abrantes em 1956. Diplomada pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa e pela Academia Gerrit Rietveld de Amsterdam. Bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian em 1984 e durante os anos letivos de 1987/88 e 1988/89, enquanto aluna da Academia Gerrit Rietveld. Bolseira do Governo Holandês (NUFFIC) em 1989, enquanto gravadora no Amsterdams Grafich Atelier.
Realizou, entre 1983 e 2022, vinte e oito exposições individuais de gravura, pintura e desenho. Participou em mais de setenta exposições colectivas a convite de várias instituições nacionais e estrangeiras. Em 1987 ganhou o Prémio da Exposição Nacional de Gravura, atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian e pela Cooperativa Gravura. Em 1990 ganhou o Prémio de Edição na II Bienal de Gravura na Amadora. Editada pela “Gravura” em 1988 e 1989. Em 1991/92 foi convidada a ilustrar com gravuras e desenhos da sua autoria os convites, programas e cartazes do Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian. Em 1992 ilustrou os programas e cartazes do Festival Internacional de Música do Algarve e o cartaz de apresentação da Orquestra Gulbenkian. Realizou o cenário da peça “Três passagens para Moscovo”, no Centro Cultural de Belém, em Junho de 1994. Em 2004 foi convidada pela Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva a representar Portugal no 37º Prémio Internacional de Arte Contemporânea de Monte Carlo. Está representada em: Museu de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa), Museu V. Moderne Kunst (Amsterdam, Holanda), Museu Martins Correia (Golegã), Museu Armindo Teixeira Lopes (Mirandela).
Coleções particulares: Clube 50 (Lisboa), Coleção da Sociedade de Advogados (PLMJ) e Coleção Millenium BCP. Está representada em coleções em Portugal, Brasil, Bélgica, França, Itália, Espanha, Holanda, Luxemburgo, U.S.A., Japão e México.