Uma presença tomada por garantida, tão perto que quase se torna invisível. Olhares que convergem para um ponto de partilha para deixar ver o que a experiência constrói e oferece a quem ainda há de vir sentar-se à mesa.
“Sentada à mesa, olhando em frente” de Gwendolyn Van der Velden é um retrato de comunidade, uma instalação multidisciplinar sobre o legado das mulheres da Galeria Diferença e a importância deste espaço. Não é um documentário ou uma pesquisa antropológica, é uma conversa sobre a importância de não confundirmos identidade com resiliência - ser artista é diferente de persistir em fazer arte.
A artista holandesa, a viver e trabalhar em Lisboa há mais de 15 anos, tem registado comunidades através de retratos a aguarela, cerâmica e gravação de conversas para criar instalações adaptadas aos espaços e às suas histórias, na procura de reconhecer e perceber melhor a justaposição de padrões de experiência e relação que impactam em especial as comunidades de mulheres. Ao testemunhar que padrões como estatuto social, género, idade, naturalidade, educação, cultura ou orientação política co-existem e se co-constroem, A natureza do retrato expande-se, multidisciplinar na técnica, simultaneamente crítico e artístico, individual e colectivo, tão anacrónico como absolutamente presente no momento. Este processo guiou trabalhos recentes feitos junto das mães e população da aldeia de Maceira, das pessoas que trabalham na Fábrica Viarco em S. João da Madeira e, mais recentemente, na comunidade da diáspora Indonésia e da Papua Nova Guiné na Holanda em colaboração com a Fundação Arjati Breda. Na Galeria Diferença, Gwendolyn Van der Velden interessou-se pelo historial deste espaço cooperativo como um dos mais antigos pontos de partilha de experiência e acesso a técnicas de gravura e impressão. Cedo na sua pesquisa tornou-se relevante o papel determinante de mulheres artistas nessa partilha, mas também na direção da cooperativa fundada em 1979 apoiando uma comunidade na produção e exposição continuada de obra.
Licenciada pela Academia Voor Beeldende Vorming, em s ́- Hertogenbosch, com pós-graduação pelos De Ateliers, em Amsterdão. Bolseira, por duas vezes, em 2001 e em 2004 da BKVB/ Mondrian (The Netherlands Foundation for Visual Arts, Design and Architecture) que lhe deu oportunidade de desenvolver o seu trabalho e viajar.