11 Julho até 30 Julho

Rogério Taveira

Estudos de Dinâmica de Corpos Transientes

Exposições

Espaço Quadrado

Estudos de Dinâmica de Corpos Transientes
Instalação vídeo multicanal

Estudos de Dinâmica de Corpos Transientes surge como uma cartografia especulativa de um território marcado por camadas estratificadas de extração e abandono, entendidas não apenas como condições materiais, mas também como dispositivos simbólicos. Concebidos a partir de processos de arte pública socialmente engajada com as comunidades do Canal Caveira e do Lousal, estes estudos exploram as dinâmicas de ressonância entre a paisagem, a memória e a figuração mítica. Interrogam os regimes de visibilidade e latência produzidos pela transição do século XIX para o século XX, período em que a industrialização redesenha profundamente este território.
Investigam-se as dimensões geológica e política dos planos de superfície — espaço intersticial entre a profundidade dos minerais, o desejo de extração e as extensas marcas de contaminação inscritas no tecido social, cultural e territorial. É neste lugar que se cruzam dinâmicas de contingência e resistência, expressas nas práticas culturais, nas mitologias locais e nas relações não-humanas que reinscrevem o território a partir das suas margens.
Os corpos, entendidos como formas transitórias de presença e inscrição, recusam a linearidade das narrativas hegemónicas e abrem espaço para uma política do sensível, inscrita no atrito e na duração. A descontinuidade dos processos históricos que configuram este território impregna-o de insurgência. Resistir, neste contexto, não implica confronto direto, mas sim a capacidade de habitar interstícios, persistir na margem, no irresolvido, no que escapa à fixação. A revolução não se manifesta, assim, como rutura, mas como rotação: um movimento contínuo, quase impercetível.


FICHA TÉCNICA
Realização e Montagem Rogério Taveira

LOCAIS: Mina do Lousal, 2019; Acervo de Pintura da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, 2025; Interiores da casa de Prazeres Maria Braz e Vitorino Joaquim Pratas, Lousal, 2019.
OBRAS: Acervo de Pintura da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa: “Cavalo branco” atribuído a Carlos Reis, óleo sobre tela, 1886; “Cavalo castanho com vista parcial da academia” de Veloso Salgado, óleo sobre tela, 1886; “Uma cabeça de animal (pintada do natural)” de Artur Loureiro, óleo sobre tela, 1879; “Vaca” de José Campas, óleo sobre tela, 1906.
Fotografias pertencentes à coleção de fotografia Martins e Máximo, Arquivo do Município de Grândola.

MONTAGEM: André Filipe, Manuel Taveira

AGRADECIMENTOS:
Um agradecimento muito especial a Cristina Cruzeiro e à sua avó, Prazeres Maria Braz, que gentilmente permitiram a realização das filmagens no interior da sua casa, situada na aldeia mineira do Lousal. Dona Prazeres, que faleceu em janeiro de 2025 aos 100 anos, é exemplo de uma notável resistência face às duras condições de vida e de saúde a que esteve sujeita. O seu marido, Vitorino Joaquim Pratas, mineiro de fundo, faleceu precocemente devido a complicações causadas pela silicose. Também o irmão, Henrique António, perdeu a vida em 1970, vítima de um acidente na mina:
Sérgio Vicente; Projeto EXTRAI; Comunidade de Canal Caveira; Associação Socio Cultural Aldeia Nova de S. Lourenço; Comunidade do Lousal; Câmara Municipal de Grândola; Arquivo do Município de Grândola (Daniela Sousa, David Brito); Biblioteca do Município de Grândola (Rafael Banza); Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (Ana Bailão, André Filipe, Fernando Fadigas, Liliana Cardeira); Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes; Manuel Taveira; Rita Filipe

Rogério Taveira (1966). Doutorado em Belas-Artes pela Universidade Poltécnica de Valência (2011). Licenciado em Arquitectura pela Universidade Técnica de Lisboa (1989). Professor Auxiliar do Departamento de Arte Multimédia da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, desde 2006. Tem desenvolvido atividade de investigação centrada no território enquanto dispositivo crítico e espaço de enunciação política, interrogando as suas formas de representação e as camadas históricas, materiais e afetivas que a atravessam.
Participou em diversas exposições individuais e coletivas, das quais destacamos: Infinite Sculpture no Palais des Beaux Arts em Paris, Esculturas Infinitas na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, No Reino das Nuvens: Os Artistas e a Invenção de Sintra no MU.SA - Museus das Artes de Sintra, Queda na Galeria Diferença e Queda II na Galeria da Biblioteca e Arquivo do Município de Grândola.