Em Cartografia do Olhar, as pinturas se organizam no espaço como um percurso — um trajeto imaginário, traçado com o olhar de quem caminha por uma vila, uma rua ou uma cidade ainda desconhecida. O visitante é convidado a seguir esse caminho, a deixar o olhar ir e voltar, descobrir, comparar, reconstruir.
Toda a pesquisa da artista parte da cor — observada, analisada e reinventada ao longo do dia. A cor aqui é experiência e pensamento, memória e construção. Cada tom nasce de pequenas variações e misturas: uma pitada de branco sobre o azul, um amarelo que se inclina ao verde. Esse exercício contínuo
transforma-se numa espécie de jogo, um modo lúdico e sensível de compreender o mundo.
As composições são geométricas e livres ao mesmo tempo — um impulso de construir sem obedecer à lógica do real. As formas evocam fachadas, telhados, ruas, mas também se afastam delas. O resultado é um território que existe apenas na pintura: uma vila de instantes, uma arquitetura de cor.
O trabalho é realizado com tinta acrílica vinílica aplicada sem diluição sobre MDF. A artista utiliza máscaras que geram sobreposições e bordas precisas, criando um efeito próximo à
colagem, embora nada seja colado de fato. A simultaneidade do processo — várias obras em andamento — reflete o próprio ritmo da observação: fragmentado, móvel, em constante vai e vem.
As pinturas, dispostas lado a lado, formam uma linha contínua,
quase um horizonte. Nesse gesto de alinhar e aproximar, o espaço torna-se mapa, e o olhar do público se transforma em viajante. Entre movimento e pausa, o ato de ver converte-se em cartografia — uma representação sensível das passagens, dos lugares e das cores que habitam a memória.
Bettina Vaz Guimarães
Vive e trabalha entre São Paulo e Lisboa.
Sua produção abrange pintura, desenho, instalação e projetos site-specific. A pesquisa da artista nasce do encantamento pela cor — suas nuances, encontros e pequenas variações.
Bettina observa o mundo como quem recolhe fragmentos de luz: objetos, arquiteturas e cenas cotidianas tornam-se matéria para novas combinações cromáticas. Seu processo, entre o rigor da construção geométrica e o prazer lúdico da pintura, transforma a observação em invenção.
Entre suas principais exposições individuais e coletivas destacam-se: Abraço ao Infinito (Centro Cultural de Cascais – Fundação D. Luís), Tabela Periódica e Laboratório de Cores (Museu Nacional de Ciência e História Natural de Lisboa),Achadouros (curadoria João Silvério, Cisterna Galeria – Lisboa),Azul Pintado de Azul (Galeria Andrea Rehder – São Paulo),About Change (curadoria Marina Galvani, Washington
DC, EUA), Studiolo XXI – desenho e afinidades (curadoria Fátima Lambert, Fundação Eugénio de Almeida - Évora),Abstracción (Galeria Fernando Pradilla – Madrid), Pinturas e Desenhos (FUNARTE e Centro Cultural São Paulo).
Suas obras integram acervos e espaços públicos como o MAC USP – Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, SENAC São Carlos, Bienal da Bolívia (SIART), Pinacoteca Municipal Miguel Dutra – Piracicaba, Casa da Cultura da América Latina – Brasília, Museu Victor Meirelles – Florianópolis, Museu de Arte Contemporânea de Campinas e Museu Universitário de Arte – MUNA, Uberlândia.