A pintura que Diogo Guerra Pinto desenvolve é um processo cumulativo que se entrega a si mesmo, tela sobre tela, óleo sobre papel, papel sob a figura, imagem sobre tela, fragmento, referência, objecto, vista ou vanitas, natureza morta ou movimento que se perpetua sobre o imenso cenário da história desta disciplina que o artista persegue, sem títulos, nomes ou índices. Talvez seja esta disciplina pessoal, austera e compulsiva, que nos conduz até à ideia ou metáfora da apneia, que intitula esta exposição. É uma ideia, porventura, submersa, no sentido de um mergulho ficcional em si mesma, de dentro para dentro. É, de certo modo, como uma suspensão dos estímulos exteriores ao atelier do artista, enquanto universo construído no interior de uma bibliografia publicada e empilhada, que em cada gesto se vai transformando num imaginário partilhado que Guerra Pinto entrega à nossa experiência da sua prática da pintura. A relação com a história da arte é um dos elementos presentes nas pinturas e nos desenhos, que sistematizam uma aparente variação temática na exposição. As pinturas guardam de um modo subtil a mão que desenha, tal como o desenho nos faz suspeitar que o gesto cria um outro gesto, refazendo-se no acto de pintar. Assim, a figura, o fundo, a luz ou a penumbra que a sua pintura materializa, e que por vezes parece representar um vazio ou uma superfície informe impossível de apreender num primeiro vislumbre, coloca-nos perante essa possibilidade de uma suspensão que se equilibra no limite da sua representação ficcional, possuída de uma certa estranheza. Esta aura do que é estranho e do que resiste à palavra confronta-nos como paisagem emoldurada e moldura que é simultaneamente pintura e imagem de si mesma, numa espécie de mise-en-abyme que interroga continuamente o espectador sobre os limites da imagem representada enquanto pintura. É neste jogo consciente e desafiador que Diogo Guerra Pinto resgata imagens e fragmentos de pinturas, e de artistas (de tempos modernos) como Picasso, Rothko e, na densidade da sua paleta, uma certa melancolia que se descobre entre a vigília e a penumbra de De Chirico. Como uma invulgar estranheza que nos reconcilia com a pintura enquanto gesto irrepetível, num movimento perpétuo.
João Silvério Curador
Diogo Guerra Pinto, nasce em 30.04.71, em Lisboa. Atualmente vive em Lisboa, e divide atelier com dois colegas, também em Lisboa. Iniciou a sua formação no AR.CO, em 1995, com a frequência do Curso de Desenho Intensivo. Depois disso, em 1996 frequentou o Curso Avançado de Artes Plásticas (Plano de Estudos Completo), tendo terminado o mesmo em 2000, após o que se seguiu a Fase de Projeto até 2021 no AR.CO. Em 2012 frequentou o Curso de Arte Terapia, na Sociedade Portuguesa de Arte Terapia.
Em termos de exposições individuais, a Galeria Alecrim 50 representou-o nos últimos anos, tendo exposto individualmente em 2011, 2009; e coletivamente na mesma galeria em 2016 e 2011.
Relativamente a outras exposições individuais, destaca-se em 2007 na Art’Adentro, na Forma d’Arte e no Museu de Água em 2004; na Galeria Castelo 66 e na Galeria Parthenon em 2003; e em 2002 na Galeria Caminus. Participou na exposição coletiva Variations Portugaises, no Centro de Arte Contemporânea em Meymac, em 2018.
Participou em várias exposições coletivas na Galeria João Esteves de Oliveira em 2016, 2015, 2014, 2013 e 2010. Para além disso, expos coletivamente na Iniciativa X – Arte Comtempo (2006), na Artmarma, em Santarém (2004), na Galeria Diferença (2004), na Câmara Municipal de Sintra (finalista prémio D. Fernando em 2004), na Fundação Vieira da Silva (finalista prémio Celpa/Vieira da Silva) (2004), na Galeria Maia e na Galeria Diferença (2002), na Cordoaria Nacional como finalistas do AR.CO (2000).
Faz parte da Coleção Particular de Fernando Ribeiro.