De 13 Janeiro até 12 Fevereiro 2022

NONÔ

Entrelinhas

Exposições

Espaço Triângulo

Esta exposição estabelece a correlação temporal e material sobre o trabalho manual e artístico de três mulheres da mesma linhagem genética- duas rendeiras e uma artista que se predispõe a questionar, descontextualizar e trabalhar à volta e com as peças criadas pela sua família.
Considerando o território rural e isolado em Portugal no século XIX e princípio de XX, reconhece-se a falta de recursos educacionais e culturais disponibilizados às figuras femininas nas províncias, figuras essas que apenas consideravam o crochet entretenimento ou escape, na inconsciência do tesouro que criavam e consequentemente, na marca artística que deixariam para as futuras gerações.

Com a exposição “Entrelinhas”, a artista encontra uma relação estética nos naperons feitos pela sua avó paterna e bisavó materna e o seu trabalho contemporâneo. Em termos formais, os processos distinguem-se na medida em que na renda utilizam-se como pontos fulcrais a simetria, o foco e repetição; o oposto do seu trabalho, assimétrico, abstrato. Em contraste, em termos conceptuais, ambos os processos resultam do sentido de identidade, liberdade artística e linguagem decorativa.

A artista explora, predominantemente com o desenho, as narrativas de sua infância, que num labirinto de memórias fotográficas se expandem a partir do mesmo para a escultura, dando ao corpo de trabalho elementos não só autobiográficos como também multifacetados e enigmáticos, incluindo objetos que fazem parte da família, intervenções pictórica nas rendas originais e valorização da sua materialidade em diálogos frescos e intuitivos através da técnica do decalque e novas composições.

Os laços emocionais são o que trazem um sentido nostálgico às peças, que desde a estética portuguesa antiga ao contemporâneo transbordam a melancólica poesia da verdadeira saudade.

Questiona-se a existência da veia artística de família, sendo que se identifica há tanto tempo e no presente, os mais novos também fazem promessas em relação à arte, nas suas variadas formas.

Será esta linha de tempo, uma linha contínua?

Fabiana Simões