Um bocado de um bocado


Há já uns anos fui convidado para participar numa exposição no Palais de ToKyo, chamada “Double-Je“. (1)

A exposição desenvolvia-se a partir de uma pequena narrativa de Franck Thilliez, acerca de um duplo e e finalmente de um crime (lembrando um pouco A Confissão de Lúcio).
Reuniu bastantes artistas e uma grande diversidade de aproximações. O todo mostrava as duplicidades e os confrontos da vida do aparente duplo e, como não poderia deixar de ser, uma
bem recheada cena de vestígios de um crime.

As imagens, que agora mostro em “Espelhos e Sombras”, são uma parte do meu envolvimento nesse trabalho, que sempre me pareceu Integrar-se muito bem naquele mundo e, ao mesmo tempo, conservar uma total autonomia: por isso escolhi estas sete imagens.

Jorge Molder

(1) “Double-je” foi uma exposição pensada e comissariada por Jean de Loisy e decorreu no Palais de Tokyo entre 23 de Março e 16 de Junho de 2016



A sombra alonga-se na parede. Conseguimos adivinhar uma presença no espaço aparentemente vazio. A presença vai, pouco a pouco, ganhando mais materialidade, mais espessura, tornando o próprio espaço mais concreto, definido pelos contornos ainda vagos do seu aparecer. Não é possível ter uma percepção da sua totalidade: apenas acedemos a fragmentos, mutáveis, que nunca chegam a formar um todo reconhecível.
A realidade do que se desenrola diante dos nossos olhos é sempre duvidosa, a sombra parece ganhar novas formas, a materialidade da forma nunca chega a ganhar a consistência espectável, o espaço expande e contrai. E a presença que sentimos acaba por se confundir com o seu reflexo no espelho.


Rui Sanches