De 20 Março até 16 Abril

Pedro Zhang

A procura por objetos antes do mundo acabar

Exposições

Espaço Quadrado

Estudando qualquer aspecto da história humana, rapidamente se repara na nossa aptidão de reconhecimento de padrões. A procura constante de repetição é uma faceta que nos predestina, começando como um mecanismo de alerta e defesa dos nossos círculos até se tornar num deleite, que obriga o ímpeto criativo a atentar e imortalizar o que vê. Todos os padrões alguma vez reparados foram já imortalizados: os anos são uma repetição das mesmas quatro estações, sempre na mesma ordem; os dias, igual; as estrelas da noite aparecem sempre no mesmo sítio.
O constante vislumbre das estrelas, os únicos pontos para onde olhar quando estávamos embebidos na escuridão, noite após noite, levaram-nos ao desenho.
Muitas das constelações que reconhecemos foram fechadas nestes conjuntos há dezanove séculos. Desde então, uma parte do mundo, ao olhar para os mesmos pontos, os associa com a mesma estação, a mesma história, as mesmas lendas.
Ligámos os pontos no céu ao mundo natural e à mitologia, e servimo-nos deles para contar histórias sobre o que nos rodeava e como cá chegámos, buscando sempre o modelo, o regular, o familiar. Seria de esperar que este fechamento formal levaria a um fim da imaginação estelar - se não há padrões novos para reconhecer, não há mais nada para questionar. Mas este fechamento trouxe o regresso do informalismo. Dentro dos padrões formais, dentro daquilo que é reconhecido, dividem-se as constelações em pedaços mais pequenos, os asterismos, criando nelas mais histórias, mais contextos.
O asterismo é a descontextualização da constelação, são os padrões informalmente reconhecíveis que existem dentro delas, que não têm fechamento e estão permanentemente disponíveis para novas histórias, novas imaginações e novos conjuntos, para criar novos céus.
As pinturas que aqui se apresentam podem ser pensados como asterismos, objetos da descontextualização constante daquilo que é reconhecível, configurando uma reorganização do mundo natural, partindo do seu isolamento como forma de analisar a sua estranheza inerente.
Cada objeto representado é uma parte da constelação, cada pintura uma tentativa de encontrar uma nova mitologia que parta de um mundo desafetado, com todas as fantasias que se esperam de uma cosmogonia natural, noturno.

Mariana B. Dias, 2025

Pedro Zhang, nascido em 2001 em Évora, vive e trabalha em Lisboa. Licenciado em Pintura pela Faculdade de Belas-Artes onde, de momento, frequenta o Mestrado em Pintura. Trabalha principalmente com pintura, partindo de um entendimento do natural através de uma proximidade com o essencial das formas, de um universo fundador no qual tudo se apresenta dentro de uma aparência primordial.
Destacam-se as exposições colectivas: Pequenas Notas Sobre Figuração II, Monitor Lisbon, Lisboa (2024); 22/09/22, Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa (2024); 9 Casa Dona Laura, Casa Dona Laura, Lisboa (2024); NOCTURNA, Módulo - Centro Difusor de Arte, Lisboa (2023); Drowning Room, Cosmos, Lisboa (2023); Chiado, Carmo, Paris: Os ‘’lugares’’ de Dordio Gomes e as bifurcações da pintura, Maison du Portugal, Paris (2023); Natureza Viva, Paisagem e Sustentabilidade, Edifício dos Leões - Espaço Santander, Lisboa (2023); Bons sonhos, IRRESPACE, Weimar (2023).