Estudos de Dinâmica de Corpos Transientes
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Estudos de Dinâmica de Corpos Transientes surge como uma cartografia especulativa de um território marcado por camadas estratificadas de extração e abandono, entendidas não apenas como condições materiais, mas também como dispositivos simbólicos. Concebidos a partir de processos de arte pública socialmente engajada com as comunidades do Canal Caveira e do Lousal, estes estudos exploram as dinâmicas de ressonância entre a paisagem, a memória e a figuração mítica. Interrogam os regimes de visibilidade e latência produzidos pela transição do século XIX para o século XX, período em que a industrialização redesenha profundamente este território.
Investigam-se as dimensões geológica e política dos planos de superfície — espaço intersticial entre a profundidade dos minerais, o desejo de extração e as extensas marcas de contaminação inscritas no tecido social, cultural e territorial. É neste lugar que se cruzam dinâmicas de contingência e resistência, expressas nas práticas culturais, nas mitologias locais e nas relações não-humanas que reinscrevem o território a partir das suas margens.
Os corpos, entendidos como formas transitórias de presença e inscrição, recusam a linearidade das narrativas hegemónicas e abrem espaço para uma política do sensível, inscrita no atrito e na duração. A descontinuidade dos processos históricos que configuram este território impregna-o de insurgência. Resistir, neste contexto, não implica confronto direto, mas sim a capacidade de habitar interstícios, persistir na margem, no irresolvido, no que escapa à fixação. A revolução não se manifesta, assim, como rutura, mas como rotação: um movimento contínuo, quase impercetível.
FICHA TÉCNICA
Realização e Montagem Rogério Taveira
LOCAIS: Mina do Lousal, 2019; Acervo de Pintura da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, 2025; Interiores da casa de Prazeres Maria Braz e Vitorino Joaquim Pratas, Lousal, 2019.
OBRAS: Acervo de Pintura da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa: “Cavalo branco” atribuído a Carlos Reis, óleo sobre tela, 1886; “Cavalo castanho com vista parcial da academia” de Veloso Salgado, óleo sobre tela, 1886; “Uma cabeça de animal (pintada do natural)” de Artur Loureiro, óleo sobre tela, 1879; “Vaca” de José Campas, óleo sobre tela, 1906.
Fotografias pertencentes à coleção de fotografia Martins e Máximo, Arquivo do Município de Grândola.
MONTAGEM: André Filipe, Manuel Taveira
AGRADECIMENTOS:
Um agradecimento muito especial a Cristina Cruzeiro e à sua avó, Prazeres Maria Braz, que gentilmente permitiram a realização das filmagens no interior da sua casa, situada na aldeia mineira do Lousal. Dona Prazeres, que faleceu em janeiro de 2025 aos 100 anos, é exemplo de uma notável resistência face às duras condições de vida e de saúde a que esteve sujeita. O seu marido, Vitorino Joaquim Pratas, mineiro de fundo, faleceu precocemente devido a complicações causadas pela silicose. Também o irmão, Henrique António, perdeu a vida em 1970, vítima de um acidente na mina:
Sérgio Vicente; Projeto EXTRAI; Comunidade de Canal Caveira; Associação Socio Cultural Aldeia Nova de S. Lourenço; Comunidade do Lousal; Câmara Municipal de Grândola; Arquivo do Município de Grândola (Daniela Sousa, David Brito); Biblioteca do Município de Grândola (Rafael Banza); Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa (Ana Bailão, André Filipe, Fernando Fadigas, Liliana Cardeira); Centro de Investigação e de Estudos em Belas-Artes; Manuel Taveira; Rita Filipe
Rogério Taveira (1966). Doutorado em Belas-Artes pela Universidade Poltécnica de Valência (2011). Licenciado em Arquitectura pela Universidade Técnica de Lisboa (1989). Professor Auxiliar do Departamento de Arte Multimédia da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, desde 2006. Tem desenvolvido atividade de investigação centrada no território enquanto dispositivo crítico e espaço de enunciação política, interrogando as suas formas de representação e as camadas históricas, materiais e afetivas que a atravessam.
Participou em diversas exposições individuais e coletivas, das quais destacamos: Infinite Sculpture no Palais des Beaux Arts em Paris, Esculturas Infinitas na Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, No Reino das Nuvens: Os Artistas e a Invenção de Sintra no MU.SA - Museus das Artes de Sintra, Queda na Galeria Diferença e Queda II na Galeria da Biblioteca e Arquivo do Município de Grândola.